Morelli, Holmes e Freud




Carlo Ginzburg no seu livro Mitos, Emblemas e Sinais, nos fala sobre o paradigma indiciário, ou seja, analisar as fontes através dos indícios. Ainda nessa obra ele comenta a respeito do surgimento dessa teoria, através do italiano Giovanni Morelli (1816-1891), um crítico de arte, que escrevia artigos sobre a veracidade das obras. Alguns historiadores de arte consideravam sua análise de “método morelliano”, segundo o crítico, diversos quadros foram atribuídos autoria incorretas e para devolver aos verdadeiros criadores, era preciso uma análise bastante detalhada. Era necessário examinar os pormenores mais negligenciáveis, e menos influenciados pelas características da escola a que o pintor pertencia, detalhes como os lóbulos das orelhas, as unhas, formato dos dedos das mãos e dos pés. Com essa técnica ele propôs dezenas de novas atribuições em alguns dos principais museus da Europa. Esse mesmo método indiciário de Morelli influenciou o médico Arthur Conan Doyle (1859-1930), a criar o Sherlock Holmes, que surgiu pela primeira vez com a publicação do livro “Um estudo em vermelho” em 1887, esse personagem é comparável ao conhecedor das artes Morelli, pois Holmes é um detetive que descobre o autor do crime baseado em indícios imperceptíveis para a maioria das pessoas. Um dos contos que mais se aproxima dessa comparação é “a caixa de papelão (1892)”, no qual Sherlock utiliza o método de Morelli descobrindo um caso analisando um lóbulo de uma orelha. E não devemos esquecer que o personagem de Doyle era um médico, que também precisa dos métodos dos indícios para descobrir as causas de uma doença. E sobre Sigmund Freud(1856-1939), talvez muitos não saibam mais em 1914 ele escreveu um ensaio intitulado “O Moisés de Michelangelo” onde ele fala justamente a respeito do método de Morelli. A autoria desse artigo por Freud veio tempos depois de sua publicação, porém ele admite como o pensamento de Morelli influenciou e suas teorias da psicanálise, através da percepção de pequenos gestos inconscientes de uma pessoa é possível observar detalhes importantes sobre sua personalidade. Então Morelli, Holmes, Freud e Ginzburg, perceberam de forma brilhante que os detalhes são importantes para uma pesquisa, as informações ausentes, as presentes, as entrelinhas e as conexões, tudo é importante para a análise de um historiador, afinal segundo A. Warburg: “Deus está no particular”.

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